O jogo Clair Obscur: Expedition 33 se destaca como uma das experiências narrativas mais intensas dos últimos tempos. Desenvolvido pelo estúdio francês Sandfall Interactive, o título combina um sistema de combate por turnos desafiador com uma história emocionalmente poderosa, ambientada em uma cidade que remete a uma Paris estilizada e envolta em mistérios.
Diferente da maioria dos jogos narrativos, que geralmente conduzem o jogador a finais vitoriosos ou reconfortantes, Clair Obscur não tem medo de explorar a dor da perda sem resolução. É por isso que ele se junta a jogos como Life Is Strange, The Beginner’s Guide e a série The Last of Us na lista das experiências mais marcantes do gênero.
Logo no início, somos apresentados a Gustave, um personagem elegante em traje social, que contempla um horizonte distante a partir de um jardim suspenso. No centro da cena está um monólito com o número 34 gravado. Ao lançar uma pedra na direção do monumento, a atitude desafiadora de Gustave dá lugar à resignação: uma mulher de 33 anos, muito querida por ele, está prestes a desaparecer como parte de um ritual sombrio, conhecido como Gommage. Seu último gesto é tentar levar-lhe uma rosa.
A cidade fictícia de Lumière, onde se passa a trama, está coberta de flores. Os cidadãos que chegam aos 33 anos usam colares florais para marcar sua participação no Gommage — uma cerimônia anual em que uma figura enigmática chamada de Pintora escreve o número no monólito, sinalizando o desaparecimento daqueles marcados. Eles evaporam, deixando para trás apenas um redemoinho de pétalas vermelhas.
Determinados a pôr fim a esse ciclo trágico, Gustave, Maelle — uma órfã de 16 anos — e um grupo de voluntários partem em uma expedição para derrotar a Pintora. Eles seguem os passos de muitas outras tentativas fracassadas, mas rapidamente se deparam com um homem misterioso de cabelos grisalhos, armado com uma bengala, e seu exército de criaturas monstruosas conhecidas como Nevrons. A jornada da Expedição 33 quase termina ali.
A direção de arte de Clair Obscur é exuberante, com atuações vocais de qualidade e uma trilha sonora envolvente que contribuem para a construção de um universo riquíssimo. Elementos clássicos da fantasia são inseridos de maneira elegante, mas pouco a pouco dão lugar a uma realidade mais dura, repleta de dilemas morais, ambiguidades e tragédias. Cada um dos três atos do jogo culmina em momentos de intensidade crescente.
A reviravolta no final do primeiro ato pode até lembrar um momento icônico de Game of Thrones, mas o desfecho final é tão impactante que chega a arrancar lágrimas. A cena escolhida por este redator — uma entre várias possibilidades de encerramento — envolve uma das personagens favoritas, que, ao olhar para um antigo companheiro, desfalece no chão. A expressão de frustração e tristeza em seu rosto é uma das mais marcantes já vistas em um jogo desde a emoção refletida no rosto de Ellie no final de The Last of Us Parte I.
Combinando influências de RPGs japoneses como Final Fantasy e elementos sombrios da série Souls, Clair Obscur: Expedition 33 se firma como uma estreia memorável, que não apenas impressiona pela jogabilidade, mas também por sua profundidade emocional e narrativa inovadora.